HIGIENIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO RECIFE DO SÉCULO XIX
Recife: uma cidade em processo de urbanização por Samuel Lima
O processo de expansão e urbanização do Recife, inicia-se a partir da década de 20 do século XIX, onde certos locais da cidade recebe um bom número de obras estruturais ou reformas em setores urbanos já em estado de obsolência. As primeiras obras do Recife neste século, foram aplicadas em setores de iluminação, ordenamento das casas e ruas, expansão em forma de aterro da Boa Vista, calçamentos, abastecimento através de encanação e saneamento básico.
O Recife décadas antes deste processo reestruturador, era uma cidade que padecia de problemas de abastecimento, iluminação pública de qualidade e outros fatores estruturais que uma cidade em pleno XIX precisava para melhora de vida de sua população.
Para tomarmos como ponto de partida desta analise, nos entrojetaremos em suas condições físicas e estrutrais para compreendermos melhor tal situação. As ruas do Recife - grande parte delas - inexistiam calçamentos em seu “leitos” ao ponto que, no periodo de chuvas ( de junho a agosto), ficavam alagadas prejudicando o transporte público e de mercadorias em suas ramificações. As casas eram catalógadas vulgarmente, as ruas recebiam nomes variaveis ditados pelo gosto popular, existia muitos becos e vielas que dificultavam o tráfego de transuentes e meios de transportes. A ilumminação pública baseava-se em luminarias, candeeiros e lamparinas abastecidos a vela, só pontos isolados da cidade recebiam iluminação pública, mesmo assim também abastecidas a luz de velas, as demais partes ficavam a cargo dos moradores de iluminarem a localidade.
O abastecimento de água era feito por intermédio de canoas transportadas por escravos, as fontes de água que abasteciam a cidade, localizavam-se no Varadouro(Olinda), nas cacimbas de Ambrósio Machado (próximo ao forte das Cinco Pontas) e Lagoa do Prata ( Dois Irmãos). A diculdade de abastecimentos na cidade nunca foi um fato novo, este problema durou por muitos séculos até a segunda metade do XIX, quando cria-se a Companhia de Abastecimento de Beberibe, tanto é que o preço do balde d’água sofria aumento de preço quase que sempre.
O Saneamento básico era inexistente, os dejetos humanos eram jogados nos rio Capibaribe, nas ruas e nos becos. Quase que não existia latrinas. O trabalho de transporte dos dejetos era feito como sempre, por escravos, sendo estes chamados por alcunha de “tigres”. O transporte humano era feito através de “liteiras” ou de carroças, isto é, nas estações secas. Carecia a cidade de alguns prédios públicos para as funções administrativas, não existiam centros ou escolas de formação de educadores e nem centros de propagação das artes.
Porem, a partir da década de XX do século XIX- principalmente quando Recife recebe o título de cidade em 1823 -, passa a mesma, a receber um significativo impulso urbanizante. Neste primeiro tempo, a cidade recebe uma documentação régia para que suas ruas sejam iluminadas através de lamparinas e postes abastecidos á oléo de peixe ou de carrapateira, as primeiros locais iluminadas foram: a Rua Nova, o cais do Porto e depois certas partes do bairro de Santo Antônio. Antes desta data, só eram iluminadas certas áreas da Vila em ocasiões de festividades, geralmente acessas por três dias, pois a vila pagava imposto imperial a Capital do Império, então a cidade do Rio de Janeiro. Um ano antes de tal feito, a Vila inaugurava o Farol do Picão, erguido em 1822 ao dia um de janeiro.
Nas vésperas do natal do 1823, o governo da província de Pernambuco delega aos Engenheiros Jacob Niemeyer e Herculano de Moraes a missão de elaboração de um projeto para captação de água encanada para o Recife. Projeto entregue no dia 13 de janeiro de 1824 alegando que a tal empreitada deveria ser aplicada na captação das águas do Beberibe, Lagoa do Prata e Camaragibe, nascia já daí o futuro projeto de água encanada do Recife. Entretanto, a então recente cidade que acabara de tornar-se capital da província, ainda padecia agonizantemente de seus antigos problemas estruturais até finais da década de 30 (século XIX).
O maior impulso modernizador e urbanista que a então recente capital da província recebe, acontece no governo de Francisco do Rego Barros – 1838 a 1841, de 1841 a 1844. Em suas duas gestões o “Chico Macho” (como era popualrmente apelidado), empreendeu uma série de obras reestruturadoras e urbanizadoras na província de Pernambuco, principalmente na capital. Como forma de melhorar o sistema de abastecimento de água, coloca em prática o então projeto de funcionamento da Companhia de Beberibe, esta, entra erm funcionamento na década de quarenta. As fontes de abasteciemento localizavam-se na Lagoa do Prata, atual bairro de Dois Irmãos, a captação era feita por meio de bombeamento, e sua distribição era praticada por canos de cobre e de ferro, a água encanada em canos de ferro servia para o abastecimento de prédios públicos e residências, já o abastecimento através dos canos de cobre, era destinado aos chafarizes públicos, sendo estes localizados em pontos estratégicos da urbe recifense e de bairros adjacentes. O valor do balde d’água quase que manteve-se o mesmo que à décadas atrás. O transporte dos baldes de água era tarefa dos escravos domésticos e de negros de ganho, havia muitas reclamações dos senhores de posses do Recife sobre a demora, conversa e libertinagem dos negros nas filas para enchemento dos baldes de água nos chafarizes. Porem, mesmo com a Companhia de Beberibe abastecendo a região, os metros cúbicos por dias despejados no Recife eram insuficientes para o abastecimento da população.
No quesito iluminação pública, o Recife passou a obter um melhor sistema com a substituição dos postes abastecidos por óleo de peixe e de carrapateira pelo gás hidrogênio, algumas localidades dos bairros do centro e pontos estratégicos de importância econômica e social.
Em relação a normatização de ruas e casas, O “Chico Macho” manda aplicar números nas casas, batiza as ruas e calça algumas, e dá uma melhor forma de localização ao então bairro central, aterra partes no bairro da Boa Vista com vias de fato ao aumento de sua área territorial.
O primeiro centro de formação de educadores é criado em seu governo, esta medida visava capacitar educadores para a formação primaria na província, esta escola, em seu principio era ferqüentada somente por homens.
A educação superior chega à província na década de 20 com a criação da Faculdade de Direito do Recife, porém, a faculdade passa a ter prédio próprio na década de 70 do XIX.
Em 1840, inicia-se no Recife o projeto de construção de passeios públicos para a população que tanto reclamava, com a construção de praças arborizadas, jardins e parques. Projeta-se também a construção de um cemitério público para descentralizar a responsabilidade com os mortos, que era da Igreja Católica, sendo este construido no logradouro de Santo Amaro das Salinas, em um terreno parte doado por particular, e outra comprada pela provincia, apesar de iniciada sua construção em meados da década de quarenta do XIX, só é terminado em finais da década de 1850.
Em realação as artes, o Recife só contava com um teatro de expressão na primeira metade do XIX, e este era o teatro Apolo, construido em 1825 através do incentivo de um “comunidade” teatral existente neste período. No governo de Francisco do Rego do Barros, o mesmo, contrata por meio do erário público engenheiros e arquitetos franceses para algumas obras estruturais, uma dessas obras planejadas e a do Teatro Santa Isabel, e da Sede do Governo da Provincia. O Teatro ficou a cargo do Engenheiro Louis Vaultier, que projeteou sua planta em estilo Neoclássico. Porém, o teatro só ficou terminado no final da década de 1850, já com outro engenheiro assumindo a obra, o “secretário de obras públicas” José Mamede Ferreira, sendo este o finalizador do projeto do teatro. Entre as obras de Mamade Ferreira podemos destacar a construção de uma ponte pencil na Caxangá, o Hospital Pedro II, o Predio do Atual Ginásio Pernambucano, o melhoramento e construção do prédio da Alfandega e outras obras de infra-estrutura que agraciaram a cidade em sua gestão.
Como já fora dito a pouco, o transporte na cidade do Recife era praticado por meio de carroças e Liteiras. Só ocorre mudança neste modelo a partir da década de 1860, com a introdução de um transporte ferroviário ligando o centro da cidade as demais localidades adjcentes, era este o chamado Macha Bomba. Um classico exemplo deste modelo podemos observar hoje em dia na Estação Ponte D’ Uchoa, no Bairro das Graças. Esta etação é o que sobrou das estações de transporte público que ligava os bairros do centro aos bairros periféricos, a Companhia responsável pelo transporte ferroviário era uma empresa estrangeira estabelecida na província. Os Machas Bombas só serão substituídos pelo bondinho puxado a burros da empresa Ferro Carril em meados dos anos 1870.
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Referências Bibliográficas
CARVALHO, Marcos de. Rotinas e rupturas do escravismo. Recife: 1822 a 1850.
COSTA, Cleonir Xavier de Albuquerque & Aciolli Vera Lúcia Costa. José Mamede Alves Ferreira: sua vida e sua obra: 1820-1850.
REZENDE, Antônio Paulo. O Recife: História de uma cidade.
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