quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Revolta dos marinheiros contra os castigos da chibata - 1910 [parte II]

Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate”.

(João Cândido, depoimento a Edmar Morel)

por Samuel Lima

   No dia 16 de novembro de 1910, o Rio de Janeiro comemorava a posse do Presidente da Republica Hermes da Fonseca. A Bahia da Guanabara encontrava-se bem movimentada na manhã deste dia, com um bom número de navios com convidados para a festa de posse que seria dada pelo governo brasileiro. No contraponto desta felicidade toda, o maior navio de guerra da marinha brasileira, teria uma manhã de grande apreensão e revolta em decorrência da aplicação de um castigo físico, imposto ao marujo Marcelino Rodrigues Menezes. O motivo da aplicação da punição, estava centrado no ataque com golpe de navalha desferido por Marcelino, ferindo no rosto o Cabo Valdemar Rodrigues de Souza,  pois este tinha denunciado Marcelino de ter tentado levar para bordo do navio duas garrafas de pinga. A pena para a infração foi a aplicação da tão temida Chibata. O número de chibatadas aplicadas seria de 25, mas foi o total aumentado para 250.
   Logo após ser examinado pelo médico a bordo do navio, Marcelino teve a roupa da cintura para cima retirada, e  foi amarrado pelas mãos e pés. O comandante do navio, Capitão Batista das Neves, deu início ao ritual do castigo. Marcelino foi suspenso pelas mãos e ficou a espera dos carrascos, que logo entraram na cena trazendo consigo a Chibata, uma espécie de corda feita de linho recheada por agulhas de aço. Todos os oficiais estavam em traje de gala para a ocasião e ficaram observando o sofrimento do marujo, que varias vezes desmaiou de dor, mas mesmo assim, continuou sendo castigado.
   Na noite do dia 17 de novembro, os marujos decidiram se rebelar para por fim o castigo da chibata, o excesso de trabalho e a péssima alimentação que ganhavam. Decidiram formar comitês revolucionários com a intenção de organizar o movimento. Os encontros desses comitês eram conduzidos em terra, e os membros dos comitês faziam parte das tripulações dos vários navios de guerra. Sendo assim formado o comitê revolucionário, se organizou três reuniões, sendo o último encontro em número reduzido, por causa do baixo número de marujos que estavam em viagens. A reunião do comitê com maior número de participantes foi à segunda, onde os lideres prestam juramento enrolados com a bandeira da republica, alegando e prometendo defender veementemente a causa revolucionária.
“O primeiro grãozinho foi na organização dos comitês, já com título de comitês revolucionários. A intenção era aquela, logo que tivéssemos o elemento inicial para impormos às autoridades, a revolta teria que vir.”
(João Cândido, depoimento ao Museu de Imagem e do Som)
   Depois destas reuniões, ficou estabelecido que na noite do dia 22 de novembro, as tripulações dos navios de guerra iriam se rebelar e tomar a frota ancorada na Bahia da Guanabara. O sinal de inicio do movimento seria o toque de chamada das 22 horas. Cada membro da revolta assumiu sua posição sem despertar suspeitas. Cada canhão foi guarnecido em média com cinco marinheiros que tinham ordem de atirar para matar em quem ousasse impedir o levante.
   Assim que acabara o toque de recolher, o Capitão Batista das Neves que estava em um jantar no cruzador francês Duaguay Trouin, retorna ao encouraçado Minas Gerais em companhia do ajudante de ordens. Conversa rapidamente com o tenente Álvaro da Costa que fiscalizava a limpeza do convés e se recolhe aos seus aposentos. Bem no memento que descia as escadas inferiores do navio e se despedia do comandante, o segundo-tenente Mota Silva é atingido por um golpe de baioneta no peito aplicado por um marujo que estava de tocaia. O tenente em um pleno momento de dor, segura a baioneta do marujo, saca sua espada e lhe desfere um golpe certeiro no abdômen, o marujo dá um forte grito de dor chamando a atenção da tripulação.
    Atraídos pelos gritos, a marujada sobe ao convés, também da mesma forma que os oficiais, que logo procuram conter os ânimos dos marinheiros que gritando frases de efeito,“vivas a liberdade” e “abaixo a chibata” atacam o pequeno grupo de oficiais que estavam no convés. O comandante Batista das Neves ao tentar coibir a revolta, é atacado pelos marujos e tenta se defender com sua espada. Luta bravamente por dez minutos, mas é atingido com golpes de machadinhas na cabeça e morre logo em seguida.
   Após terminado os combates no convés do Minas Gerais, o líder da revolta, o marinheiro João Candido, determina que seja disparado um tiro de canhão para alertar aos outros navios de guerra: O cruzador rápido República, cuja tripulação ao receber o alerta, abandona a embarcação e embarcar nos demais navios envolvidos na revolta; o Bahia, o Minas Gerais e o São Paulo. O cadáver do Comandante Batista das Neves fica exposto no convés durante varias horas sendo alvo de chacotas. Tal atitude, ocorre como forma de vingança pelo tratamento dado aos marujos e aos exercícios forçados que o comandante obrigava há todos cumprirem diariamente. O marujo Aristides Pereira, ao se certificar do falecimento do comandante, urina no cadáver do mesmo. Nos cinqüenta minutos do embate no convés do Minas Gerais registrou um número de cinco oficiais mortos, quatro em combate e um suicídio. Pelo lado da marujada, duas mortes, e vários feridos, uns defendendo os oficiais outros lutando do lado dos marujos.







3 comentários:

  1. Prof. Samuel Lima. Tudo bem?

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  2. Gostei do texto e os detalhes são muito bons. Está me ajudando muito a realizar meu trabalho. Muito obrigada.

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  3. Gostei muito dos detalhes, e da forma como conta a história. Está me ajudando muito com meu trabalho. Muito obrigada...

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