O gaúcho que inventou o rádio |
Guglielmo Marconi levou a fama, mas foi o padre Landell de Moura quem fez as primeiras experiências de transmissão da voz humana em 1893. Ele nasceu há 150 anos, em Porto Alegre |
Lucio Haeser |
Há 150 anos, no dia 21 de janeiro de 1861, nascia, em Porto Alegre, o padre Roberto Lândell de Moura, o inventor do rádio. Guglielmo Marconi levou a fama, mas a obra do italiano foi o telégrafo sem fio. Ou seja, pontos e traços do Código Morse sendo enviados pelo espaço. Já o padre Landell fez as primeiras experiências de transmissão da voz humana em 1893. Antes de Marconi e antes de Nicolá Tesla, gênio nascido na Croácia, que desenvolveu grandes experimentos, e que é reconhecido nos Estados Unido s como o inventor do rádio. [À esquerda: foto de Landell de Moura tirada em 1908, com manipulação / wikimedia]. É claro que, como na maioria dos inventos, nunca se pode dar o crédito a apenas uma pessoa. Sempre há um processo de inovações que levam a uma determinada descoberta. A existência das ondas eletromagnéticas foi teorizada pelo escocês James Maxwell em 1873. O alemão Heinrich Hertz fez a primeira demonstração prática do fenômeno em 1888. A década de 1890 fervilhava com a idéia da transmissão de mensagens à distância sem a necessidade de fios, fossem elas em código Morse, sons ou imagens. Mas, mesmo que sejam desconsideradas as experiências pioneiras de Landell de 1893, e seja levada em conta apenas a transmissão de 3 de junho de 1900, na Avenida Paulista, em São Paulo, amplamente testemunhada e registrada na imprensa, vê-se claramente que o padre porto-alegrense foi o primeiro a levar a palavra do homem à distância sem o uso de fios. Pois só seis meses depois haveria notícia de algo semelhante. E ainda assim, restam dúvidas se o canadense Reginald Féssenden, fez de fato a sua primeira transmissão em dezembro de 1900. Publicamente, a primeira transmissão de Féssenden ocorreu apenas no Natal de 1906. [À direita: réplica funcional do Transmissor de Ondas, construida por Marco Aurelio Cardoso Moura em Maio de 2004 / wikimedia] No entanto, o rádio nasceu pelas mãos de Landell, mas ninguém percebeu. O fato é que, apesar de ter obtido patentes para seus inventos até nos Estados Unidos, no Brasil ele foi tido pelas autoridades como louco e, por alguns dos féis da igreja, como alguém que tinha pacto com o demônio. Landell sempre trabalhou com recursos próprios. O interesse do padre pela ciência já o havia colocado em contato com dom Pedro II, ainda durante o império. Pedro II sempre foi um homem de visão e aficionado pelas novidades científicas. No entanto, mais tarde, em 1904, já sob o regime republicano, quando Landell procurou o presidente Rodrigues Alves para obter auxílio em seus experimentos, foi visto como doido. É que ele teve a ousadia de dizer que, futuramente, o seu invento possibilitaria até a comunicação interplanetária. Landell estava certo. Hoje temos as espaçonaves não tripuladas Voyager, lançadas pela Nasa em 1977, saindo do sistema solar, e ainda enviando imagens e sons para a Terra. Outro episódio foi marcante na vida de Landell. A invasão e destruição de seu laboratório, construído a duras penas. Fiéis da igreja invadiram seu local de trabalho e destruíram tudo. Por volta de 1910, com outros cientistas estrangeiros levando as experiências adiante, e ganhando as glórias pelo invento do rádio, Landell de Moura abandonou a ciência. Levou sua vida até 1928 apenas no exercício do sacerdócio. Nunca demonstrou raiva ou ressentimento. Compreendia a ignorância humana. [À esquerda: memorial descritivo da Patente Brasileira de Landell de Moura, de 1901 / fonte: wikimedia] Muito da sabedoria de Landell se perdeu por causa do descaso ou pela ação do tempo. Mas o jornalista Hamilton Almeida, maior pesquisador e autor de dois livros s obre o inventor brasileiro, registra que Landell tinha muitas outras investigações científicas. Abordava até a possibilidade de comunicação entre as pessoas diretamente pelo que chamava de logus, ou o verbo mental. São mistérios que, como o próprio Landell disse, teria que levar para o túmulo. Fonte: RHBN |
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011
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