Em sua busca desmedida pelo poder, levou Carlota Joaquina a participar de várias conspirações e tentativas de golpes, inclusive até contra o seu próprio marido, D. João VI
Por Samuel Lima
Em suas intenções golpistas, Carlota Joaquina tramou - muitas destas tramas sem sucesso - mais de cinco conspirações como meio de barganhar o poder político que tanto desejara assumir.
A primeira tentativa de golpe contra o próprio marido com a intenção de assumir o trono Português, ocorreu em meados de 1805. Neste ano, D. João VI passou por uma profunda crise de depressão - sendo esta sua primeira crise- se afastou da vida política e pública, ficando recluso no palácio de Mafra na companhia dos frades e isolando-se ainda mais, trocando Mafra pelo solar de Vila Viçosa. Pensando que o marido ficara louco como a mãe (a Rainha Dona Maria I ), a princesa Carlota Joaquina buscou afastá-lo do poder para assumir ela mesma a regência do trono Português. Com isso, criou um grupo de partidários a sua volta para apoia-la no golpe alegando insanidade de D. João VI, e assim iriam isola-lo, para com isso assumir o poder. Alertado a tempo pelo seu médico, Domingos Vandelli, D. João retornou a Lisboa em tempo hábil de desbaratar o golpe da esposa e manter a coroa sob sua cabeça. O caso foi levado a um inquérito, onde foi cogitada a hipótese de Carlota ser presa com seus aliados. O resultado só não foi pior para a princesa porque D. João VI quis abafar o caso entre as paredes do palácio. A partir deste acontecimento, D. João e Carlota Joaquina passaram a viver separados.
Já no Brasil, Carlota Joaquina ao tomar conhecimento de que Napoleão teria deposto seu irmão do trono da Espanha, Fernando VII em 1808, contando com o apoio do Almirante Inglês Sidney Smith, enviou cartas para as elites das colônias espanholas na América do Sul com a intenção de ser tornar Rainha do Império e de garantir forças contra Napoleão Bonaparte, ainda mais porque o seu pai havia abdicado do império e ela era a pessoa direta na linha de sucessão. Temendo perde a colônia, que sem um rei poderia começar o seu processo de independência, exigiu a D. João VI que a libera-se para assumir o trono no lugar do irmão, preso por Napoleão. Porém, D. João VI aborta os planos de Carlota atrasando sua ida a Buenos Aires, como relata em trecho de uma de suas cartas para Carlota Joaquina:
“Quando Vossa Alteza for solicitada de maneira formal e autêntica, poderá empreender sua viagem”.
Com essa ação de atrasar a ida de Carlota para assumir o trono no lugar do irmão, D. João VI minou as intenções de Carlota de dar um golpe no irmão, pois as colônias espanholas começariam o seu processo de independência nas Américas, arquivando o então projeto de Carlota Joaquina.
Em 1821, já de volta a Portugal, buscou apoio na frades e nobres em mais um audacioso projeto. No seu novo plano estava a intenção de não aceitar a imposição da constituição liberal que limitava o poder do rei e e obriga-lo abdicar do trono e destruir a constituição. Sua atitude ficou marcada em não assinar a carta constituinte, por isso, foi presa no Palácio do Ramalhão. A intenção de tal golpe era afastar D. João VI e colocar no trono de Portugal o seu filho, o Infante D. Miguel. Porem, mais uma vez, seu golpe é frustado.
Em seu retiro no Palácio de Ramalhão, tramou mais golpes contra o marido e com a intenção de derrubar a constituição e retirar o rei do seu posto, e colocar o seu filho D. Miguel. Este golpe foi chamado de Vilafrancada. Aproveitando-se, Carlota Joaquina e D. Miguel, de que as tropas francesas mandadas pela Santa Aliança estavam na Espanha com a intenção de derrotar o regime constitucional e instalar o absolutismo do rei espanhol Fernado VII, apoiam o movimento absolutista no norte português sob o comando do Conde de Amarante, acreditando que as tropas francesas apoiariam o golpe. D. Miguel que possuía o titulo de generalíssimo do exército português, juntou um grupo do exército na cidade de Vila Franca e rumou em direção ao norte para apoiar as tropas do Conde de Amarante, em 27 de maio de 1823. No final do mês, D. João VI apoiado pelo 18º Regimento de Infantaria, leal a seu governo, rumou ao norte e desbaratou as tropas rebeldes absolutista sob o comando de D. Miguel, eliminando mais uma tentativa de golpe ao seu reinado. Após a Vilafrancada, o rei acabou por suspender a constituição, prometendo para logo breve a convocação de novas eleições, com a intenção de se redigir um novo texto constitucional. Foi então buscar a esposa no retiro e durante alguns meses, reinou a harmonia entre os dois.
Um ano após a tentativa do golpe de Vila Franca, Carlota Joaquina e D. Miguel tramam um novo golpe para retirar do poder o rei D. João VI. D. Miguel mais uma vez, tentou tomar o poder no golpe de 30 de abril de 1824, conhecido como golpe da Abrilada. No entanto, tal feito não logrou êxito devido o apoio dos embaixadores da França e da Inglaterra e da hábil ação de D. João ao se retirar para um navio de guerra no Rio Tejo, de onde conseguiu o fracasso do golpe, ordenando a retirada do cargo de generalíssimo do exército de D. Miguel e o exilou na Áustria, o mesmo fez com Carlota Joaquina que foi esta desterrada para o Palácio de Queluz. Mais uma vez as tramas políticas de Carlota Joaquina falhavam.
Depois de tantas tentativas de golpes que tinha sofrido, D. João VI no final da vida nomeou um conselho de regência para lhe suceder o trono em caso de sua morte, retirando assim as possibilidades de Carlota Joaquina e D. Miguel lhe suceder, nomeou como substituto para seu lugar no trono, a sua filha, a Infanta Isabel Maria de Bragança, que assume o reino após 10 de março de 1826, data do falecimento de D. João VI. Mas esta ação de D. João VI não eliminou as intenções golpistas de Carlota Joaquina e sua havida busca pela manutenção do poder absoluto.
Ainda no mesmo ano de sua posse, Dona Maria Isabel abdicou do trono português em favor de sua sobrinha, Maria da Glória - filha de D. Pedro I - que iria se casar com D. Miguel, seu tio, e que no processo do acordo matrimonial, aceitaria a Constituição promulgada por Pedro I do Brasil. Porém, não foi o que aconteceu, D. Miguel não concordava com a carta constitucional e tinha apoio da mãe, Carlota Joaquina. Mesmo sabendo dos rumores intencionais de D. Miguel, D. Pedro I autoriza sua tomada de posse em 1828. Breve tempo depois, D. Miguel aclama-se rei de Portugal no lugar de sua esposa, Maria Isabel, o que leva a um confronto entre as tropas de D. Miguel e D. Pedro I em meados da década de 1830, saindo-se D. Pedro I como vencedor e pondo fim a mais uma tentativa frustrada de golpe da dupla Carlota Joaquina e D. Miguel para tomar o trono do reino de Portugal.
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